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ECONOMIA DAS MERCÊS O serviço público brasileiro se caracteriza pela nomeação de parentes (nepotismo), amigos e correligionários

ECONOMIA DAS MERCÊS

O serviço público brasileiro se caracteriza pela nomeação de parentes (nepotismo), amigos e correligionários. Malgrado leis que procuram estancar esses jogos espúrios e malgrado políticos que atuam com probidade e ética, a prática é adotada por todos os partidos políticos. Num país sério, funções públicas não eletivas são ocupadas por concursados ou formados por escolas de administração pública. Numa instituição religiosa como a Ordem Dominicana, há oitocentos anos o fim do mandato de um superior se traduz na demissão compulsória de todos por ele nomeados. Assim, evitam-se o continuísmo, do ponto de vista político, e o carreirismo, do ponto de vista administrativo. Na administração pública brasileira pode-se mapear, em detrimento do decoro, frondosas árvores genealógicas. E são mais frondosas e galhadas as dos nomeados por razões políticas, ainda que incompetentes e despreparados. De olho na única moeda que tem valor a seus olhos o voto o político instaura a dinastia familiar, de modo que filhos e descendentes percorram a mesma trajetória. Basta que o neto ostente o sobrenome do avô famoso para que as urnas lhe sorriam. Álvaro de Araújo Antunes, professor da Universidade Federal de Ouro Preto, ressalta a documentada economia das mercês ou do dom e as redes clientelares na administração pública no século 18. Hoje, essa economia das mercês explica a presença, no governo federal, de ministros que até ontem lhe faziam acirrada oposição e até o consideravam o mais corrupto da história do Brasil (Mangabeira Unger). Assim, o projeto político cede lugar aos interesses eleitoreiros; a ideologia ao pragmatismo; e os princípios éticos são sacrificados em benefício de quem suga e dilapida os recursos públicos. Se nossos desmandos têm origem na colônia, isso não significa que nós, brasileiros, somos irremediavelmente macunaímicos, sem caráter. De olho nas eleições municipais deste ano e nas majoritárias de 2010, há que incluir na pauta política a urgente reforma do Estado, de modo a vedar os buracos desse imenso queijo suíço das instituições públicas, pelos quais trafegam imunes e impunes as ratazanas devotas do verso franciscano de que é dando que se recebe.

Frei Beto, Revista Caros Amigos, Fevereiro 2008 (texto adaptado).

O tema de que trata o texto Economia das mercês está relacionado à(s)

exploração da classe operária brasileira.

negociações fraudulentas de cargos no setor público brasileiro

nomeações para o serviço privado brasileiro.

atividades ilícitas na política econômica brasileira.

reforma político-econômica do Estado brasileiro.

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