Navalha na carne negra, excita por Plínio Marcos e dirigida por José Fernando Peixoto de Azevedo,

São Paulo ( SP ) , 2018 ●você consegue escrever os elementos que despertam sua atenção ​


Navalha na carne negra, excita por Plínio Marcos e dirigida por José Fernando Peixoto de Azevedo,Sã

1 Resposta

  • thayaraoliversantos

    cena que fazia ver a “escória da sociedade”. Figuram nela três personagens, Neusa Sueli, Vado e Veludo, uma prostituta, um cafetão e um camareiro gay – que fazem parte de um “subproletariado”, nas palavras de Décio de Almeida Prado: “uma escória que não alcançara sequer os degraus mais ínfimos da hierarquia capitalista”.

    Explicação:

    CORPO NEGRO. A problemática do corpo preto e seus históricos processos de marginalização social são o mote central da montagem, que pretende lançar luzes sobre questões relativas à hierarquização social hoje vigente. As questões atravessam o texto de Plínio Marcos e reverberam na própria produção teatral hegemônica de nosso país. Quem são os “marginais” de Plínio Marcos hoje? Onde se encontram? Como lidam com seus desejos e necessidades? Qual sua expectativa de vida? Eles se reconhecem como parte dessa “escória”? O que esperam da sociedade – se é que ainda esperam alguma coisa?

    Do corpo-mercadoria – a redução perversa da imagem do corpo preto produzida pela história da escravidão – à mercadoria-corpo que é a prostituta Neusa Sueli, estancando sua fome com um sanduíche de mortadela; da sexualidade excessiva da “bicha” Veludo à sexualização do corpo negro, corpo-objeto ao qual não se concede o direito ao desejo; e mesmo a fantasmagoria viril chamada Vado, cuja expressão é imitação de uma violência cuja gramática é uma gestualidade macaqueada da violência, naturalizada na figura nacional do macho.

    DO EXCESSO E DA EXCEÇÃO. Excessos de vida e de morte, de potência e impotência, de grandeza e insignificância. Vestígios de uma história marcada no corpo preto, feita de gritos e de silêncios. Imaginar um futuro implica, para os criadores, lançar o olhar às cicatrizes e se permitir a escuta de uma potência inaudita – a voz de um anseio oprimido que jamais desistiu da vida.

    Nesta Navalha na Carne Negra, as figuras em jogo não são apenas vítimas ou imagens de uma destituição absoluta. São sobretudo figuras em luta: em cena como na vida, a luta revela o quão portadoras de vida ainda são. Na resiliência de corpos adoecidos de sua negação, revela-se uma intuição silenciosa de que os atravessamentos produzem diferença, permitem que saibam ainda o que são; como qualquer corpo doente, são corpos que imaginam cura...

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