Não sei se há desamparo maior do que alcançar a fronteira

de um país distante, nessa solidão abissal. E pedir refúgio, essa palavra - conceito tão nobre, ao mesmo tempo tão delicada. E então se sentir mal, e cada um há de saber como a fragilidade da carne nos escava. Corrói mesmo aqueles que têm o melhor plano de saúde num país desigual. Ele, desabitado da língua, era desterrado também do corpo. Para alcançar o que viveu o homem desconhecido, porque o que se revelou dele não é ele, mas nós, é preciso vê - lo como um homem, não como um rato que carrega um vírus. Para alcançá - lo é preciso vestir o homem. Mas só um humano pode vestir um humano. E logo ouviu - se o clamor. Não é hora de fechar as fronteiras?, cobrou - se das autoridades. Que os ratos fiquem do lado de fora, onde sempre estiveram. Que os ratos apodreçam e morram. Para os ratos não há solidariedade nem compaixão. Parece que nada se aprendeu com a aids, com aquele momento de vergonha eterna em que os gays foram escolhidos como culpados, o preconceito mascarado como necessária medida sanitária

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