O conceito de racionalidade é um conceito multifacetado que traz implicações teóricas e práticas que não permitem a adoção de uma abordagem conclusiva. Trata-se de um conceito de significativa relevância na teoria das organizações, mas que, ao mesmo tempo, não permite delimitação precisa dos fenômenos envolvidos e relacionados a ele.Inicialmente, ao se considerar a influência dos preceitos filosóficos relacionados às concepções de pensamento (lógica) e ação (pragmática) como balizadores da noção de racionalidade, observa-se que os autores contemporâneos sofreram as mesmas inquietações que os filósofos tiveram, ao tentarem delimitar as fronteiras entre idéia e experimentação e suas relações com a razão humana. Percebe-se que são conceitos extremamente interligados e uma teoria que considerasse apenas um desses aspectos tornaria frágil qualquer discussão.No mundo contemporâneo a noção de racionalidade foi incorporada e formalizada por Weber a partir de seu conceito de burocracia. Não se pode negar que os princípios racionais burocráticos são indispensáveis à vida social moderna; entretanto a tentativa weberiana de erradicar os elementos irracionais e disfuncionais da sociedade e das organizações, se chocou, entre outras coisas, com a própria limitação humana em agir e utilizar a racionalidade. Nesse sentido são de relevância significativa a contribuição de Simon (1965) e March e Simon (1972) à compreensão de que a irracionalidade no sentido weberiano não poderia ser excluída, devendo as organizações não só consideraram as restrições ao exercício da racionalidade pelos agentes em temos de suas capacidades cognitivas, como também precisavam administrar tal limitação.Outro ponto de destaque refere-se à idéia de racionalidade procedimental desenvolvida por Simon, a qual enfatiza a dificuldade das teorias baseadas no homem racional em lidar com situações de incerteza. Assim, na medida em que as restrições à racionalidade são admitidas pela teoria, o comportamento passa a ser colocado como fortemente dependente tanto do contexto em que ocorre quanto das características psicológicas do indivíduo, tornando-se uma racionalidade externa à própria lógica da norma e, mais uma vez, entram em choque os limites ente aspectos internos e externos na relação do homem com a racionalidade.Percebe-se, então, que as organizações, para administrarem os limites cognitivos de seus membros, buscam racionalizar o processo de escolha das linhas de conduta das pessoas, começando pelo controle dos estímulos que fundamentam tal processo. Desta forma impõem, inicialmente, certos limites através da definição de políticas. Depois são estabelecidos mecanismos para dirigir a atenção e canalizar as informações e conhecimentos para que se conformem aos limites impostos por essas políticas. Finalmente, são executadas ações e decisões diárias limitadas ao espaço delineado pela burocracia estabelecida, delimitando a abrangência da própria racionalidade no meio organizacional.Além do mais, observa-se que as organizações funcionam mediante a incorporação de orientações previamente definidas e racionalizadas na sociedade, as quais contribuem para a legitimação das suas atividades e para a sua sobrevivência, independentemente da eficiência e da demanda da sua produção (Powell & Dimaggio, 1999). Dessa forma, programas e tecnologias são adotados nas organizações por força de pressões contextuais, refletindo regras e significados fixados por estruturas construídas e institucionalizadas na sociedade.Há de se considerar que a racionalidade, mais do que orientar a compreensão cognitiva dos indivíduos e organizar a vida humana na sociedade e nas organizações, através de normas racionalmente desenhadas, desempenha papel relevante na justificativa, na legitimação e, principalmente, na conformação dos indivíduos à vida nas coletividades organizacionais, produzindo uma lógica que é interiorizada pelos próprios indivíduos em conformidade com as normas organizacionais próprias daquele sistema social, produzindo um sentido compartilhado por todos os membros.Finalmente, deve-se considerar a relevância dos autores da teoria crítica, que representam uma expressão mais contemporânea da racionalidade. Essa perspectiva surge como crítica social a partir da visão de autores como Habermas, Horkheimer e Marcuse, que constataram que a promessa iluminista da libertação pela razão se viu comprometida pela maneira como o racionalismo se operacionalizou, sob forma de racionalidade instrumental, erodindo a possibilidade da emancipação humana. Na visão desses autores, o sentido da vida humana, especialmente em relação ao trabalho no mundo capitalista, não deve ser estruturado somente a partir de uma racionalidade funcional, mas a partir de uma ação compartilhada entre os indivíduos e grupos que busque o alcance de um bem maior social e a introdução de uma base lúdica e de prazer na relação do homem com a sociedade e com o trabalho.
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O conceito de racionalidade é um conceito multifacetado que traz implicações teóricas e práticas que não permitem a adoção de uma abordagem conclusiva. Trata-se de um conceito de significativa relevância na teoria das organizações, mas que, ao mesmo tempo, não permite delimitação precisa dos fenômenos envolvidos e relacionados a ele.Inicialmente, ao se considerar a influência dos preceitos filosóficos relacionados às concepções de pensamento (lógica) e ação (pragmática) como balizadores da noção de racionalidade, observa-se que os autores contemporâneos sofreram as mesmas inquietações que os filósofos tiveram, ao tentarem delimitar as fronteiras entre idéia e experimentação e suas relações com a razão humana. Percebe-se que são conceitos extremamente interligados e uma teoria que considerasse apenas um desses aspectos tornaria frágil qualquer discussão.No mundo contemporâneo a noção de racionalidade foi incorporada e formalizada por Weber a partir de seu conceito de burocracia. Não se pode negar que os princípios racionais burocráticos são indispensáveis à vida social moderna; entretanto a tentativa weberiana de erradicar os elementos irracionais e disfuncionais da sociedade e das organizações, se chocou, entre outras coisas, com a própria limitação humana em agir e utilizar a racionalidade. Nesse sentido são de relevância significativa a contribuição de Simon (1965) e March e Simon (1972) à compreensão de que a irracionalidade no sentido weberiano não poderia ser excluída, devendo as organizações não só consideraram as restrições ao exercício da racionalidade pelos agentes em temos de suas capacidades cognitivas, como também precisavam administrar tal limitação.Outro ponto de destaque refere-se à idéia de racionalidade procedimental desenvolvida por Simon, a qual enfatiza a dificuldade das teorias baseadas no homem racional em lidar com situações de incerteza. Assim, na medida em que as restrições à racionalidade são admitidas pela teoria, o comportamento passa a ser colocado como fortemente dependente tanto do contexto em que ocorre quanto das características psicológicas do indivíduo, tornando-se uma racionalidade externa à própria lógica da norma e, mais uma vez, entram em choque os limites ente aspectos internos e externos na relação do homem com a racionalidade.Percebe-se, então, que as organizações, para administrarem os limites cognitivos de seus membros, buscam racionalizar o processo de escolha das linhas de conduta das pessoas, começando pelo controle dos estímulos que fundamentam tal processo. Desta forma impõem, inicialmente, certos limites através da definição de políticas. Depois são estabelecidos mecanismos para dirigir a atenção e canalizar as informações e conhecimentos para que se conformem aos limites impostos por essas políticas. Finalmente, são executadas ações e decisões diárias limitadas ao espaço delineado pela burocracia estabelecida, delimitando a abrangência da própria racionalidade no meio organizacional.Além do mais, observa-se que as organizações funcionam mediante a incorporação de orientações previamente definidas e racionalizadas na sociedade, as quais contribuem para a legitimação das suas atividades e para a sua sobrevivência, independentemente da eficiência e da demanda da sua produção (Powell & Dimaggio, 1999). Dessa forma, programas e tecnologias são adotados nas organizações por força de pressões contextuais, refletindo regras e significados fixados por estruturas construídas e institucionalizadas na sociedade.Há de se considerar que a racionalidade, mais do que orientar a compreensão cognitiva dos indivíduos e organizar a vida humana na sociedade e nas organizações, através de normas racionalmente desenhadas, desempenha papel relevante na justificativa, na legitimação e, principalmente, na conformação dos indivíduos à vida nas coletividades organizacionais, produzindo uma lógica que é interiorizada pelos próprios indivíduos em conformidade com as normas organizacionais próprias daquele sistema social, produzindo um sentido compartilhado por todos os membros.Finalmente, deve-se considerar a relevância dos autores da teoria crítica, que representam uma expressão mais contemporânea da racionalidade. Essa perspectiva surge como crítica social a partir da visão de autores como Habermas, Horkheimer e Marcuse, que constataram que a promessa iluminista da libertação pela razão se viu comprometida pela maneira como o racionalismo se operacionalizou, sob forma de racionalidade instrumental, erodindo a possibilidade da emancipação humana. Na visão desses autores, o sentido da vida humana, especialmente em relação ao trabalho no mundo capitalista, não deve ser estruturado somente a partir de uma racionalidade funcional, mas a partir de uma ação compartilhada entre os indivíduos e grupos que busque o alcance de um bem maior social e a introdução de uma base lúdica e de prazer na relação do homem com a sociedade e com o trabalho.