Insistindo
no perpétuo fluxo das coisas e na variabilidade extrema das impressões
sensitivas determinadas pelos indivíduos que de contínuo se transformam,
concluíram os sofistas pela impossibilidade absoluta e objetiva do
saber. Sócrates restabelece-lhe a possibilidade, determinando o
verdadeiro objeto da ciência. O objeto da ciência não é o
sensível, o particular, o indivíduo que passa; é o inteligível, o
conceito que se exprime pela definição. Este conceito ou idéia geral
obtém-se por um processo dialético por ele chamado indução e que
consiste em comparar vários indivíduos da mesma espécie, eliminar-lhes
as diferenças individuais, as qualidades mutáveis e reter-lhes o
elemento comum, estável, permanente, a natureza, a essência da coisa.
Por onde se vê que a indução socrática não tem o caráter demonstrativo
do moderno processo lógico, que vai do fenômeno à lei, mas é um meio de
generalização, que remonta do indivíduo à noção universal.
Praticamente, na exposição polêmica e didática destas idéias, Sócrates
adotava sempre o diálogo, que revestia uma dúplice forma, conforme se
tratava de um adversário a confutar ou de um discípulo a instruir. No
primeiro caso, assumia humildemente a atitude de quem aprende e ia
multiplicando as perguntas até colher o adversário presunçoso em
evidente contradição e constrangê-lo à confissão humilhante de sua
ignorância. É a ironia socrática. No segundo caso, tratando-se de um
discípulo (e era muitas vezes o próprio adversário vencido),
multiplicava ainda as perguntas, dirigindo-as agora ao fim de obter, por
indução dos casos particulares e concretos, um conceito, uma definição
geral do objeto em questão. A este processo pedagógico, em memória da
profissão materna, denominava ele maiêutica ou engenhosa obstetrícia do
espírito, que facilitava a parturição das idéias.
Gustavopierro
Insistindo no perpétuo fluxo das coisas e na variabilidade extrema das impressões sensitivas determinadas pelos indivíduos que de contínuo se transformam, concluíram os sofistas pela impossibilidade absoluta e objetiva do saber. Sócrates restabelece-lhe a possibilidade, determinando o verdadeiro objeto da ciência. O objeto da ciência não é o sensível, o particular, o indivíduo que passa; é o inteligível, o conceito que se exprime pela definição. Este conceito ou idéia geral obtém-se por um processo dialético por ele chamado indução e que consiste em comparar vários indivíduos da mesma espécie, eliminar-lhes as diferenças individuais, as qualidades mutáveis e reter-lhes o elemento comum, estável, permanente, a natureza, a essência da coisa. Por onde se vê que a indução socrática não tem o caráter demonstrativo do moderno processo lógico, que vai do fenômeno à lei, mas é um meio de generalização, que remonta do indivíduo à noção universal. Praticamente, na exposição polêmica e didática destas idéias, Sócrates adotava sempre o diálogo, que revestia uma dúplice forma, conforme se tratava de um adversário a confutar ou de um discípulo a instruir. No primeiro caso, assumia humildemente a atitude de quem aprende e ia multiplicando as perguntas até colher o adversário presunçoso em evidente contradição e constrangê-lo à confissão humilhante de sua ignorância. É a ironia socrática. No segundo caso, tratando-se de um discípulo (e era muitas vezes o próprio adversário vencido), multiplicava ainda as perguntas, dirigindo-as agora ao fim de obter, por indução dos casos particulares e concretos, um conceito, uma definição geral do objeto em questão. A este processo pedagógico, em memória da profissão materna, denominava ele maiêutica ou engenhosa obstetrícia do espírito, que facilitava a parturição das idéias.