A disseminação do coronavírus pode apressar o fim da globalização​

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  • Rafaela

    A globalização, a estranha ideia que encapsula nossa interconexão, já estava sob ataque de populistas, terroristas, guerreiros comerciais e ativistas climáticos, tendo se tornado um alvo fácil para muitas coisas que nos afligem.

    Agora, chegou o coronavírus. Sua disseminação, dizem analistas e especialistas, pode ser um momento decisivo nos fervorosos debates sobre quanto o mundo poderia se integrar ou se separar.

    Mesmo antes da chegada do vírus à Europa, as mudanças climáticas, as preocupações com a segurança e as queixas sobre o comércio injusto haviam intensificado as ansiedades sobre viagens aéreas globais e cadeias de suprimentos industriais globalizadas, além de terem reforçado as dúvidas sobre a confiabilidade da China como parceira.

    O vírus já deu outro golpe na desaceleração das economias e encorajou os populistas a reviver os discursos – com tons de racismo e xenofobia – por controles mais rígidos de migrantes, turistas e até mesmo corporações multinacionais.

    Entre todos os desafios à globalização, muitos deles políticos ou ideológicos, esse vírus pode ser diferente.

    “Sempre nos esquecemos de que estamos à mercê da natureza, e, quando os episódios passam, nós nos esquecemos e continuamos. Mas esse vírus trouxe à tona todas essas questões sobre a interconectividade do mundo que estamos construindo. Viagens aéreas, cadeias globais de suprimentos – está tudo ligado”, disse Ivan Vejvoda, membro do Instituto de Ciências Humanas de Viena.

    À medida que o vírus se espalha para a Europa e além, explicou Vejvoda, “isso torna a China um pouco mais frágil e nossa dependência dela como ‘a fábrica do mundo’ mais duvidosa”.

    A rápida propagação do vírus vindo da Ásia é “mais uma gota d’água da globalização”, disse Robin Niblett, diretor da Chatham House, instituição de pesquisa em Londres.

    As tensões políticas entre os Estados Unidos e a China em relação ao comércio, bem como as preocupações com as mudanças climáticas, já haviam levantado questões sobre o sentido e o custo do envio de peças de país para país e a probabilidade de impostos sobre o carbono nas fronteiras, observou ele.

    Juntamente com o risco de uma cadeia de suprimentos vulnerável ao surgimento do próximo coronavírus, ou às vulnerabilidades de uma China cada vez mais autoritária, Niblett declarou: “Se você é uma empresa, tem de pensar duas vezes em se expor.”

    Particularmente agora, com mais países usando sanções e interdependência econômica “como uma nova forma de diplomacia coercitiva, vamos ficando mais avessos ao risco da globalização”, afirmou ele.

    A globalização da doença não é uma novidade, observou Guntram Wolff, diretor da Bruegel, instituição de pesquisa econômica em Bruxelas, citando as mortes maciças que se seguiram à chegada dos europeus às Américas, ou a peste, agora em parte celebrada pelo Carnaval de Veneza, que foi cancelado.

    “O que é diferente é que, com o avião, as coisas podem se espalhar muito rápido”, disse ele. O impulso imediato é recuar e erguer barreiras. “Já vemos os números de voos caindo drasticamente.”

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