Há muitos anos tinha vontade de conhecer a Floresta Amazônica. Já havia estado por alguns dias em Rio Branco e Xapuri (terra de Chico Mendes), estado do Acre, mas essa viagem se resumiu a “observação a distância” da floresta, por isso, quase que nem conto. Aliás, para ser mais explícita, minha observação se referiu exatamente àquela por meio da janelinha do avião.
Decidi, em 2016, visitar o estado do Amazonas. Anunciei aos meus pais e amigos que estava indo para Manaus. A reprodução dos estereótipos já começa aí: alguns amigos brincavam que eu poderia voltar grávida do boto e alguns alunos diziam que eu não podia deixar de ver indígenas nus. Ah, meus pais me presentearam com um poderoso gel repelente de insetos, que dizia ter “eficácia garantida contra os mosquitos da dengue e malária”.
É preciso, nesse ponto, fazer uma distinção. O fato de Manaus ser a “capital” da Floresta Amazônia (está mais para portão de entrada), além de ser uma cidade envolvida em seus 360 graus por grandes rios e matas, em nada significa que o contato com a Floresta se dá na primeira pisada no Aeroporto. Numa rápida pesquisa na Internet (pode ser o Wikipédia mesmo), qualquer um verifica que Manaus tem pouco mais de 2 milhões de habitantes, sendo a sétima cidade mais populosa do país – dessa população, 99,49% vive em área urbana.
No aeroporto e no hotel, recebi panfletos com divulgação dos mais diversos passeios pelos arredores (e não tão arredores assim) de Manaus: nadar com o boto cor-de-rosa, observar o encontro dos rios (Negro e Solimões), visitar o Museu do Seringal, ver pássaros e jacarés… o que mais me chamou a atenção foi um tal de “Ritual Indígena”, que consiste em “Assistir e participar da dança do ritual indígena com duração de 30 minutos, onde poderá fotografar e comprar artesanato da própria tribo”. A curiosidade de uma turista venceu a teimosia ética de uma professora e lá estava eu, Angela, fazendo todos os passeios oferecidos.
Resumo da ópera: Valha-me Deus! O ditado “para inglês ver” nunca fez tanto sentido. Não sei o que foi pior: o guia no barco ensinando os gringos falarem “uga, uga” ou a piscina de 4m² para brincar de pescar pirarucu. Sim, é daí pra baixo… ficaria horas escrevendo as aberrações de determinadas situações e discursos de “profissionais” do turismo e de turistas-babões. Aqui deixo o meu apelo: Quer conhecer, de fato, a Floresta Amazônica e os povos que nela vivem (indígenas, ribeirinhos)? Fuja dos passeios organizados e formatados para turistas.
Num determinado dia, auge da minha inquietação, vendo os turistas tirando fotos dos indígenas como se fossem peças imóveis de museu, inventei de “subverter a ordem”:
evellyn4368
Há muitos anos tinha vontade de conhecer a Floresta Amazônica. Já havia estado por alguns dias em Rio Branco e Xapuri (terra de Chico Mendes), estado do Acre, mas essa viagem se resumiu a “observação a distância” da floresta, por isso, quase que nem conto. Aliás, para ser mais explícita, minha observação se referiu exatamente àquela por meio da janelinha do avião.
Decidi, em 2016, visitar o estado do Amazonas. Anunciei aos meus pais e amigos que estava indo para Manaus. A reprodução dos estereótipos já começa aí: alguns amigos brincavam que eu poderia voltar grávida do boto e alguns alunos diziam que eu não podia deixar de ver indígenas nus. Ah, meus pais me presentearam com um poderoso gel repelente de insetos, que dizia ter “eficácia garantida contra os mosquitos da dengue e malária”.
É preciso, nesse ponto, fazer uma distinção. O fato de Manaus ser a “capital” da Floresta Amazônia (está mais para portão de entrada), além de ser uma cidade envolvida em seus 360 graus por grandes rios e matas, em nada significa que o contato com a Floresta se dá na primeira pisada no Aeroporto. Numa rápida pesquisa na Internet (pode ser o Wikipédia mesmo), qualquer um verifica que Manaus tem pouco mais de 2 milhões de habitantes, sendo a sétima cidade mais populosa do país – dessa população, 99,49% vive em área urbana.
No aeroporto e no hotel, recebi panfletos com divulgação dos mais diversos passeios pelos arredores (e não tão arredores assim) de Manaus: nadar com o boto cor-de-rosa, observar o encontro dos rios (Negro e Solimões), visitar o Museu do Seringal, ver pássaros e jacarés… o que mais me chamou a atenção foi um tal de “Ritual Indígena”, que consiste em “Assistir e participar da dança do ritual indígena com duração de 30 minutos, onde poderá fotografar e comprar artesanato da própria tribo”. A curiosidade de uma turista venceu a teimosia ética de uma professora e lá estava eu, Angela, fazendo todos os passeios oferecidos.
Resumo da ópera: Valha-me Deus! O ditado “para inglês ver” nunca fez tanto sentido. Não sei o que foi pior: o guia no barco ensinando os gringos falarem “uga, uga” ou a piscina de 4m² para brincar de pescar pirarucu. Sim, é daí pra baixo… ficaria horas escrevendo as aberrações de determinadas situações e discursos de “profissionais” do turismo e de turistas-babões. Aqui deixo o meu apelo: Quer conhecer, de fato, a Floresta Amazônica e os povos que nela vivem (indígenas, ribeirinhos)? Fuja dos passeios organizados e formatados para turistas.
Num determinado dia, auge da minha inquietação, vendo os turistas tirando fotos dos indígenas como se fossem peças imóveis de museu, inventei de “subverter a ordem”: