Leia os dois trechos citados a seguir, ouça a música e lei

a a letra da canção. Em seguida, faça o exercício. Ele não será postado no AVA.
Escreveu Caetano Veloso a respeito da canção:
Neide é uma mistura de duas pessoas pretas da Bahia. Uma é Neide, minha amiga, que hoje em dia tem um restaurante no Rio de Janeiro chamado Iorubá. Eu a conheci quando ela tinha dezoito anos. Quem me apresentou foi um amigo, Antonio Risério, que é poeta e ensaísta. Ele disse: “você tem que conhecer a Neide e o pessoal dela, é uma gente maravilhosa, vamos ao Zanzibar! Eu disse a ela que a gente ia descer lá hoje”. Então, descemos onde ela morava, embaixo do restaurante que pertencia à família dela. E, quando chegamos, ela estava nua em pelo! Linda! Perfeitamente linda! Estava ouvindo um disco do Djavan. Ela me falou: “Você gosta do Djavan? Você quer um pouquinho de Coca-Cola?”. Assim, totalmente social. [...] A outra pessoa que entrou na composição de Neide Candolina foi minha professora de português, a mais importante de todas, Dona Candolina. Então eu misturei o nome das duas e criei uma personagem negra, baiana, moderna. O mais interessante é que aparece a palavra “brown” aqui, que é uma palavra que, na Bahia, era usada de modo pejorativo. Nos anos 70, 80, dizia-se: “está muito brown isso aqui; a praia está muito brown”, porque tinha muito preto, era muito baixo nível, uma coisa cafona e pobre. Os pretos se chamavam de “brown” por causa de James Brown. Por isso Carlinhos Brown é Carlinhos Brown, Mano Brown é Mano Brown; tudo vem de James Brown. E como os pretos se chamavam de “brown” uns aos outros, a gíria pegou e a classe média “branca” começou a usar a palavra “brown” como quem diz “cafona” na Itália. [VELOSO, Caetano. Sobre as letras. São Paulo: Companhia das Letras, 2003, p. 50-52]
Segundo o site Música em Prosa,
Candolina Rosa de Carvalho Cerqueira, professora primária aos 18 anos, pela Escola Normal da Bahia, graduou-se em Línguas neolatinas pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da UFBA, em 1949. [...] Foi mestra de Língua Portuguesa para várias gerações de baianos, em tradicionais colégios de Salvador – Colégio Central da Bahia, Colégio Severino Vieira, Colégio Marista – e permaneceu na memória de seus alunos. Morreu em 1973 [...]. Ela nomeia a escola da rede estadual de ensino da Bahia, no bairro de Pau Miúdo.

Preta chique, essa preta é bem linda
Essa preta é muito fina
Essa preta é toda glória do brau
Preta preta, essa preta é correta
Essa preta é mesmo preta
É democrata social racial
Ela é modal
Tem um Gol que ela mesma comprou
Com o dinheiro que juntou
Ensinando português no Central
Salvador, isso é só Salvador
Sua suja Salvador
E ela nunca furou um sinal
Isso é legal
E eu e eu e eu sem ela
Nobreza brau, nobreza brau
Preta sã, ela é filha de Iansã
Ela é muito cidadã
Ela tem trabalho e tem carnaval
Elegante, ela é muito elegante
Ela é superelegante
Roupa Europa e pixaim Senegal
Transcendental
Liberdade, bairro da Liberdade
Palavra da liberdade
Ela é Neide Candolina total
E a cidade, a ba¡a da cidade
A porcaria da cidade
Tem que reverter o quadro atual
Pra lhe ser igual
E eu e eu e eu sem ela
Nobreza brau, nobreza brau

Exercício
1. Destaque os versos em que o eu-lírico (ou seja, a voz que enuncia o poema) dá adjetivos à personagem e responda: quais são as qualidades e os exemplos de cidadania a ela associados?
2. Por que Caetano Veloso criou o refrão reunindo “nobreza” e “brown”, palavras de significados inicialmente contraditórios?
3. Você deve ter um professor ou uma professora admirável. Quais são as qualidades dessa pessoa que você mais valoriza, e que você carrega consigo?

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