Você mencionou a falta de interesse. Eu gostaria de falar sobre isso rapidamente. A falta de interesse tem 2 faces: 1) O tema da história não é do nosso agrado, cada um de nós tem um temperamento, um gosto, isso é muito justo. 2) Encontramos muita dificuldade para lidar com o texto.

Não sei sobre a razão 1, mas a 2 existe. O Auto é uma peça (de teatro) escrita em Portugal em 1517. A versão que eu li era em quadrinhos, mas não era uma simples adaptação: trazia o texto na íntegra, sem cortes e sem troca de palavras. No pé de cada página tinha uma notinha explicativa sobre as frases mais difíceis. Nem brasileiros nem portugueses, hoje, conseguem ler o Auto sem essas notas de ajuda. Eu confesso pra você que os quadrinhos me ajudaram demais a compreender toda a ação.

O resumo do enredo é o seguinte. Existe uma espécie de cais, de onde partem 2 barcas: uma que vai pro céu e outra, pro inferno. Os passageiros que chegam são as pessoas que acabam de morrer. A barca mais próxima é a do inferno e o barqueiro corre pra chamar todo mundo. Ele recebe um nobre, um agiota, um louco, um artesão, um padre, uma prostituta, um judeu, um juiz e um promotor e, por fim, 4 guerreiros cristãos.

Todos ouvem as acusações do barqueiro da barca do inferno e se defendem. Eles maltrataram os pobres, roubaram, pecaram, enganaram, tudo o que não presta. Todos tinham uma justificativa na ponta da língua, se recusavam a embarcar e iam até a barca do Céu, capitaneada pelo Anjo Gabriel. Acontece que Gabriel botava os pecadores pra correr. Na barca do céu só entraram o louco, que por ser louco teve os pecados perdoados (e o louco xinga mito) e s cavaleiros cristãos, que morreram defendendo a fé católica.

A peça serve como uma defesa dos valores religiosos da época (e aí, coitado do judeu...) e também como uma acusação a pessoas que deviam ser exemplares, como o padre, o juiz e o artesão, e que só queriam roubar e enganar o povo. Isso já acontecia naquela época e a peça servia para criticá-los fortemente.

Espero ter ajudado :)