Agora, leia um trecho do conto de José Saramago. O conto da ilha desconhecida Um homem foi bater à porta

do rei e disse-lhe, Dá-me um barco. [...Para ir a procura da ilha desconhe- cida, respondeu o homem. Que ilha desconhecida, perguntou o rei, disfarçando o riso, como se tivesse na frente de um louco varrido, dos que têm a mania das navegações, a quem não seria bom contrariar logo de entrada, A ilha desconhecida, repetiu o homem, Disparate, já não há ilhas desconhecidas, (...) Estão todas nos mapas, Nos mapas só estão as ilhas conhecidas. E que ilha desconhecida é essa de que queres ir à procura, Se eu te pudesse dizer, então não sena desconhecida. A quem ouviste tu falar dela, perguntou o Tel, agora mais sério. A ninguém. Nesse caso, porque teimas em dizer que ela existe, Simplesmente porque é impossível que não exista uma ilha desconhecida, E vleste aqui para me pedires um barco, Sim, vim aqui para pedir-te um barco, [...] Vou dar-te um barco, mas a tripulação terá de arranjá-la tu, [...] Vais à doca, per- guntas lá pelo capitão do porto, dizes-lhe que te mandei eu, e ele que te de o barco, levas o meu cartão. [...] O capitão veio, leu o cartão, mirou o homem de alto a baixo, e fez a pergunta que o rei se tinha esquecido de fazer Sabes navegar, tens carta de navegação, ao que o homem respondeu Aprenderei no mar. O capitão disse Não te aconselhana, capitão sou eu, e não me atrevo com qualquer barco. Dá-me então um com que possa atrever-me eu, não, um desses não, dá-me antes um barco que eu respeite e que possa respeitar-me a mim, Essa linguagem e de marinheiro, mas tu ndo és marinheiro, Se tenho a linguagem é como se o fosse O capitão tomou a ler o cartão do rei, depois perquntou. Poderás dizer-me para que queres o barco. Para ir procura da ilha desconhecida, Já não há ilhas desconhecidas, O mesmo disse o tel. O que ele sabe de ilhas, aprendeu-o comigo. E estranho que tu, sendo homem do mar, me digas isso, que já não há ilhas desconhecidas, homem da terra sou eu, e não ignoro que todas as ilhas, mes- mo as conhecidas, são desconhecidas enquanto não embarcamos nelas. Mas tu, se bem entendi. vais à procura de uma onde nunca ninguém tenha desembarcado. Sabe-lo-el quando lá chegar. Se chegates, Sim, ils vezes naufraga-se pelo caminho. mas, se tal me viesse a acontecer, deverias escrever nos anais do porto que o ponto a que chequel lol esse. Querer dizer que chegar, sempre se chega. Não serias quem és se não o soubesse já. [... SARAMAGO. José O conto da ilha desconheada São Paulo: Companhia das Letras, 2009 Página e 1


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