Embaraçados à ideia de que a “língua serve para comunicar e para não-comunicar” (Pêcheux, 1990, p. 21) e à premissa de que os embates discursivos em sua movência são parte constitutiva de sentidos na sociedade, traçamos, como parte de nosso trabalho de tese, o desafio de tratar a imagem como discurso.
Esta leitura da imagem como constituinte do discurso na mídia, embasada no pensamento de Michel Pêcheux, nos orienta na compreensão de que a palavra fala da imagem, descreve-a e a tenta traduzir, mas não considera a sua matéria visual, tampouco esmiúça sua condição de efeito constituído historicamente.
Neste ínterim, nos afastamos da convicção do senso comum de que uma imagem vale por mil palavras, para esboçar uma reflexão sobre o trabalho com a imagem em seus dispositivos teóricos de análise discursiva que, de acordo com Orlandi:
(...) permite trabalhar não exclusivamente com o verbal (o lingüístico), pois restitui ao fato da linguagem sua complexidade e sua multiplicidade, isto é, aceita a existência de diferentes linguagens o que não ocorre com a Lingüística, que, além de reduzir fato (de linguagem) à disciplina (que trata da linguagem), reduz também a significação ao lingüístico. O importante para a AD não é só as formas abstratas, mas as formas materiais de linguagem (ORLANDI, 1995, p. 34).
Se, em suas formas heterogêneas, a linguagem é lugar de significação, um dos componentes teóricos cruciais para que a interpretação da imagem tenha sustentação na teoria discursiva de Pêcheux é a noção de simbólico. Começamos, assim, nossa leitura teórica de conceitos-chave à análise na trama discursiva que vemos materializada na mídia. Segundo Pêcheux, não há sentido sem articulação do simbólico ao político, no sentido de que o simbólico não é uma etiqueta que representa um determinado objeto, cuja ordenação, categorização, interpretação preexiste à significação e ao político no sentido de que é um embate por poder.
Dessa forma, a constituição do sentido se materializa em uma relação do sujeito com a língua e com a imagem em sociedade, já que cada sociedade constrói uma simbologia coletiva que nutre o imaginário social e faz parte do interdiscurso. Pontualmente, no corpus de mídia impressa informativa com o qual trabalhamos, a recorrência com que a escrita é articulada à imagem, especialmente à imagem constituída por dados fotográficos e digitais manipulados eletronicamente, sinaliza para o que interpretamos como uma articulação construída, mobilizada pela força que o discurso pode ganhar ao se investir em diferentes materialidades.
Vejamos um exemplo da materialidade da imagem na capa de uma das revistas, a edição de maio de 2002 da revista Superinteressante, que compõe o corpus de estudo2:
fernanda0630
Abertura para um lugar de reflexão
Embaraçados à ideia de que a “língua serve para comunicar e para não-comunicar” (Pêcheux, 1990, p. 21) e à premissa de que os embates discursivos em sua movência são parte constitutiva de sentidos na sociedade, traçamos, como parte de nosso trabalho de tese, o desafio de tratar a imagem como discurso.
Esta leitura da imagem como constituinte do discurso na mídia, embasada no pensamento de Michel Pêcheux, nos orienta na compreensão de que a palavra fala da imagem, descreve-a e a tenta traduzir, mas não considera a sua matéria visual, tampouco esmiúça sua condição de efeito constituído historicamente.
Neste ínterim, nos afastamos da convicção do senso comum de que uma imagem vale por mil palavras, para esboçar uma reflexão sobre o trabalho com a imagem em seus dispositivos teóricos de análise discursiva que, de acordo com Orlandi:
(...) permite trabalhar não exclusivamente com o verbal (o lingüístico), pois restitui ao fato da linguagem sua complexidade e sua multiplicidade, isto é, aceita a existência de diferentes linguagens o que não ocorre com a Lingüística, que, além de reduzir fato (de linguagem) à disciplina (que trata da linguagem), reduz também a significação ao lingüístico. O importante para a AD não é só as formas abstratas, mas as formas materiais de linguagem (ORLANDI, 1995, p. 34).
Se, em suas formas heterogêneas, a linguagem é lugar de significação, um dos componentes teóricos cruciais para que a interpretação da imagem tenha sustentação na teoria discursiva de Pêcheux é a noção de simbólico. Começamos, assim, nossa leitura teórica de conceitos-chave à análise na trama discursiva que vemos materializada na mídia. Segundo Pêcheux, não há sentido sem articulação do simbólico ao político, no sentido de que o simbólico não é uma etiqueta que representa um determinado objeto, cuja ordenação, categorização, interpretação preexiste à significação e ao político no sentido de que é um embate por poder.
Dessa forma, a constituição do sentido se materializa em uma relação do sujeito com a língua e com a imagem em sociedade, já que cada sociedade constrói uma simbologia coletiva que nutre o imaginário social e faz parte do interdiscurso. Pontualmente, no corpus de mídia impressa informativa com o qual trabalhamos, a recorrência com que a escrita é articulada à imagem, especialmente à imagem constituída por dados fotográficos e digitais manipulados eletronicamente, sinaliza para o que interpretamos como uma articulação construída, mobilizada pela força que o discurso pode ganhar ao se investir em diferentes materialidades.
Vejamos um exemplo da materialidade da imagem na capa de uma das revistas, a edição de maio de 2002 da revista Superinteressante, que compõe o corpus de estudo2: