Difícil caracterizar o estilo de sócrates. os próprios antigos lhe forjaram uma palavra sob medida, eirôn

(de onde vem a palavra ironia), que deixa o tradutor moderno tão perplexo quanto o etimologista antigo. traduzamos, para simplificar, por ‘aquele que se pretende ignorante’, que "diz menos do que parece pensar"; portanto, "finório", se tomarmos pelo lado pior, como aristófanes, ou "reservado", se seguirmos platão e aristóteles. mas também "ingênuo", se admitirmos sem discussão o que ele diz de si mesmo, ou "dissimulado", se não acreditarmos nisso.

analise as alternativas e assinale a incorreta.

a) a ironia é escárnio e sarcasmo. marcas de um método destrutivo, a ironia socrática é conhecida pelo nome de maiêutica: “dar à luz” novas ideias. verdadeiramente vaidosa, essa atitude filosófica em sócrates não pode ser separada da franca hipocrisia, como atesta, seu emblemático “só sei que nada sei”.

b) a ironia é distanciamento. para poder filosofar, para colocar entre si e o mundo a barreira profilática do questionamento e da reflexão, é preciso reconhecer que a cada conhecimento obtido, uma nova ignorância se abre diante de nós. o conhecimento não é um estado, mas um processo, uma busca, uma procura pela verdade.

c) ironia: verdade e fingimento, ao mesmo tempo. nem hipócrita, nem verdadeiramente franca, diz a verdade parecendo dizer o seu contrário. realmente sócrates diz a verdade: ele nada sabe, pois só ele sabe que, às questões que ele põe, não há nenhum saber constituído que possa responder. a ironia é refutação, com a finalidade de romper a solidez aparente dos preconceitos.

d) ironia é colocar em dúvida: o diálogo socrático vai justamente dissolver o saber irrefletido de seu interlocutor e reduzir a nada suas pretensões normativas. curiosa inversão irônica: o “eu nada sei” (daquilo que acreditas que sei), mas tu sabes (o que tu não pensas que sabes)” se duplica num “tu nada sabes” (daquilo que acreditas saber).

e) ironia é espantar-se com o que já não espanta. os momentos fugidios, roubados pela ironia à seriedade das coisas e à aderência da existência, são momentos preciosos: são momentos de consciência.

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