“Outro importante filósofo leitor de Espinosa foi Immanuel Kant (1724-1804). Sobretudo por três motivos. O primeiro deles está vinculado a uma divergência com relação à definição de Deus. Na interpretação de Kant, se Deus não é Providência[1], não tem intelecto nem vontade. De acordo com Espinosa, Deus age apenas conforme as leis de sua própria natureza, portanto, não haveria lugar nem para o dever moral, nem para a liberdade, já que tudo ocorre por necessidade.
O segundo motivo está associado ao primeiro. Para Kant, só podemos conhecer a realidade enquanto fenômeno - o que nos é oferecido pela experiência sensível e inteligível, podendo ser percebido e organizado por meio das categorias à priori do pensamento: o espaço e o tempo; mas não podemos perceber a realidade (que ele chama noûmenon, a coisa em si), que não é dada à nossa sensibilidade e ao nosso pensamento. Ou seja, Deus é noûmenon; logo, não pode ser conhecido, embora a razão possa afirmar sua existência. Assim, segundo ele, tudo o que Espinosa diz sobre Deus não poderia de fato ser demonstrado. Logo, Espinosa seria um dogmático.
A terceira objeção kantiana é a de que Espinosa seja um orientalista, isto é, afirmaria as mesmas crenças das religiões orientais (hinduísmo, budismo, taoísmo). Tal opinião também era partilhada por outros dois grandes filósofos: Hegel (1770-183l) e Schopenhauer (1788-1860). Na visão deles, ao afirmar Deus como única substância, Espinosa estaria dizendo que a realidade de fato é a própria substância. Assim, nós e todas as outras coisas da natureza, seríamos apenas maneiras de ser da substância infinita, ou seja, modos imanentes a ela, sem realidade própria, individual. Portanto, nessa condição, os indivíduos seriam absorvidos no Todo e suas personalidades se apagariam, tal como ocorre nas experiências místicas orientais.”
michaeldouglas963696
“Outro importante filósofo leitor de Espinosa foi Immanuel Kant (1724-1804). Sobretudo por três motivos. O primeiro deles está vinculado a uma divergência com relação à definição de Deus. Na interpretação de Kant, se Deus não é Providência[1], não tem intelecto nem vontade. De acordo com Espinosa, Deus age apenas conforme as leis de sua própria natureza, portanto, não haveria lugar nem para o dever moral, nem para a liberdade, já que tudo ocorre por necessidade.
O segundo motivo está associado ao primeiro. Para Kant, só podemos conhecer a realidade enquanto fenômeno - o que nos é oferecido pela experiência sensível e inteligível, podendo ser percebido e organizado por meio das categorias à priori do pensamento: o espaço e o tempo; mas não podemos perceber a realidade (que ele chama noûmenon, a coisa em si), que não é dada à nossa sensibilidade e ao nosso pensamento. Ou seja, Deus é noûmenon; logo, não pode ser conhecido, embora a razão possa afirmar sua existência. Assim, segundo ele, tudo o que Espinosa diz sobre Deus não poderia de fato ser demonstrado. Logo, Espinosa seria um dogmático.
A terceira objeção kantiana é a de que Espinosa seja um orientalista, isto é, afirmaria as mesmas crenças das religiões orientais (hinduísmo, budismo, taoísmo). Tal opinião também era partilhada por outros dois grandes filósofos: Hegel (1770-183l) e Schopenhauer (1788-1860). Na visão deles, ao afirmar Deus como única substância, Espinosa estaria dizendo que a realidade de fato é a própria substância. Assim, nós e todas as outras coisas da natureza, seríamos apenas maneiras de ser da substância infinita, ou seja, modos imanentes a ela, sem realidade própria, individual. Portanto, nessa condição, os indivíduos seriam absorvidos no Todo e suas personalidades se apagariam, tal como ocorre nas experiências místicas orientais.”