O velho campeonato de pipas era uma velha tradição de inverno no Afeganistão. O torneio começava de manhã
cedo e só acabava quando a pipa vencedora fosse a única ainda voando no céu – lembro de uma vez que a competição terminou quando já era noite fechada. As pessoas se amontoavam pelas calçadas e pelos telhados, torcendo pelos filhos. As ruas ficavam repletas de competidores dando sacudidelas e puxões nas linhas, com os olhos fixos no céu, se pondo em condições de cortar a pipa do adversário. Todo o pipeiro tinha um assistente -, que ficava segurando o carretel e controlando a linha. Certa vez um gurizinho indiano, cuja família tinha acabado de se mudar para o nosso bairro, veio nos dizer que, lá na sua terra, havia regras estritas e toda uma regulamentação para se soltar pipa. Temos que ficar em uma área cercada e é preciso pôr em ângulo determinado em relação ao vento – disse ele todo prosa. - E não se pode usar alumínio para fazer sua própria linha com cerol. Hassan e eu nos entreolhamos. E caímos na gargalhada. Aquele pirralho indiano logo, logo aprenderia o que os britânicos aprenderam no começo do século e os russos viriam a descobrir em fins da década de 1980: que os afegãos são um povo independente. Cultivam os costumes, mas abominam as regras. E com as pipas não podia ser diferente. As regras era simples: não havia regras. Empine a sua pipa. Corte a dos adversários. E boa sorte. Só que isso não era tudo. A brincadeira começava mesmo depois que uma pipa era cortada. Era aí que entrava em cena os caçadores de pipas, aquelas crianças que corriam atrás das pipas levadas pelo vento, até que elas começassem a rodopiar e acabassem caindo no quintal de alguém, em uma árvore ou em cima de um telhado. Essa perseguição poderia se tornar bastante feroz; bandos de meninos saíam correndo desabalados pelas ruas, uns empurrando os outros como aquela gente da Espanha sobre quem li alguma coisa, aqueles que correm dos touros. Uma vez, um garoto da vizinhança subiu em um pinheiro para apanhar uma pipa. O galho caiu com seu peso e ele caiu de mais de dez metros de altura. Quebrou a espinha e nunca mais voltou a andar. Mas caiu segurando a pipa, ninguém pode tirá-la dele. Isso não é uma regra. É o costume. Khaled Hosseini. O caçador de pipas, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005. 1. O texto narra uma atividade cultural que ocorre anualmente no Afeganistão e também na Índia. No entanto, em cada uma dessas sociedades, o campeonato de pipas acontece de maneira distinta. No Afeganistão é movido pelos costume, e na Índia pela regra. Com base no texto, que diferença você observa entre o que o autor chama de costume e o que ele chama de regra?2. Um costume pode transformar em regra e vice-versa? Justifique sua resposta.
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