Resenha do filme o dia que meus pais saíram de férias

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  • ClaudioOliveraAluna

    O filme O ano em que meus pais saíram de férias foi dirigido pelo cineasta Cao Hamburger e estreado em 2006. A obra fílmica narra o drama de um garoto mineiro de 12 anos, Mauro, que na década de 1970, em plena Ditadura Militar, é deixado pelos pais, Daniel e Bia, no prédio em que seu avô morava, no bairro do Bom Retiro em São Paulo, os quais alegaram para o garoto que iam “tirar umas férias” o deixando profundamente confuso e triste com tal atitude tão repentina e sem motivo aparente dos pais. Na verdade os pais do menino eram militantes ativistas de esquerda que, assim como outros milhares, lutavam contra o regime militar e, portanto, estavam sendo perseguidos acusados de subversão e atentado à ordem. Nestas condições não viam outra saída a não ser fugir e se livrar das punições e torturas imensuráveis cometidas neste período a mando dos militares ditatoriais. Por coincidência no mesmo dia o avô de Mauro falece e ele é acolhido por um velho Judeu vizinho do seu avô, o senhor Sholomo. Ambos demonstram indiferença um com o outro logo nos primeiros momentos de contato, afinal sofreram um choque de culturas, porém com o passar do tempo começam a interagir mutuamente. O velho se ver na obrigação moral de cuidar do garoto, apesar das suas condições físicas limitadas, já que não poderia deixar uma criança indefesa abandonada próxima à porta do seu apartamento. As diferenças surgem logo no café da manha quando o garoto estranha a alimentação exótica do velho: café com peixe.No entanto, o foco do filme está voltado para a visão que Mauro tem sobre os acontecimentos históricos do seu tempo, como a Ditadura Militar e a Copa do Mundo de 1970 no México. Assim, as cenas são narradas com um tom suave, descontraído e, ao mesmo tempo, melancólico o que contrasta com a euforia e a violência que reinavam no cenário político brasileiro daquela época. Sem muita consciência crítica e política não compreendia com clareza os reais motivos que o levaram para aquela situação e mudança brusca de vida. Não tinha noção dos perigos que os seus pais corriam, pois se fossem pegos provavelmente seriam presos, torturados física e psicologicamente e, assim como aconteceu com centenas de outros ativistas de esquerda, assassinados sumaria e ocultamente.Como qualquer outro jovem da sua idade, Mauro demonstra a falta e a saudade que sente dos pais por causa da ausência destes agindo com inquietude mesclada com momentos de choro e raiva, sentimentos causados pela solidão e monotonia que sentia e vivia. Movido pela esperança e a promessa de que seus pais o ligariam e voltariam na Copa do Mundo passava boa parte do seu tempo perto do telefone aguardando ansiosamente a ligação que para a sua tristeza não chegava.Outras cenas de alegria e felicidade são mescladas no enredo da obra como a reunião de diferentes raças, etnias e nacionalidades na lanchonete do bairro a fim de torcerem pelos seus países que estavam competindo na Copa, com ênfase para o Brasil que brigava pelo título de tricampeão mundial. Mauro era uma criança apaixonada por futebol e jogo de botões o que o motivou a torcer fervorosamente pelo Brasil sonhando com a sua vitória juntamente com os seus mais recentes amigos, a jovem Hanna e outros garotos da sua idade.A alegria toma conta de todos quando o Brasil ganha a Copa e se torna tricampeão mundial de futebol. Neste momento de descontração, Mauro momentaneamente deixa de lado todas as suas dores e frustações e compartilha com seus amigos a alegria de ver o país se destacando no esporte favorito. Já de volta a sua dura realidade, o garoto é surpreendido com a volta da sua mãe e fica mais surpreso e desolado ainda ao saber que o seu pai não voltou. Este sem dúvidas é o momento mais crucial para o garoto, pois fica subtendido que o pai foi provavelmente assassinado, mesmo que ele talvez não tivesse consciência disso, lutando pela liberdade civil e a redemocratização do seu país, lutando, sobretudo, para reconquistar o conjunto de direitos políticos, civis e sociais que lhes foram suprimidos e roubados em um dos contextos sociopolíticos mais sombrios e obscuros da história do Brasil. 

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